#UX/UI.4 — A dor e a dificuldade da escolha em relação ao UX Design.

Giovana Dias
7 min readApr 6, 2021

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ilustração de mulher de cabelo curto preto, camisa laranja e calça preta apoiada em um grande ponto de interrogação laranja com um balão de fala que possui um ponto de interrogação dentro.
Atribuição: <a href=”https://storyset.com/people">Illustration by Freepik Storyset</a>

Olá, leitor! Tudo bem?

Dessa vez, antes de começar o desenvolvimento do texto, quero sugerir uma pequena reflexão. Então, antes de continuar, pense nas seguintes questões:

  1. Quantas vezes você já se viu buscando filmes em serviços de streaming e terminando a busca frustrado(a) por não conseguir decidir entre tantas opções?
  2. Quantas vezes você já demorou muito tempo para decidir o que comer em um cardápio extenso de restaurante ou em um aplicativo de delivery com vários restaurantes abertos?

Eu já passei por essas experiências diversas vezes e, para falar a verdade, é bem frustrante. E não são experiências frustrantes que buscamos fazer no ux design, certo? Então, bora pro desenvolvimento real do texto:

A dor e a dificuldade da escolha.

Gif de um personagem do sexo masculino que possui a pele negra, cabelo curto e está vestindo um suéter azul com blusa bege por baixo. O personagem gesticula com as mãos para cima e para baixo e diz: “I am absolutely paralyzed by decision making, and it’s destroying my life”
Chidi, personagem da série The Good Place, sendo aterrorizado internamente pela responsabilidade de suas próprias escolhas.

O processo de escolha pode ser muito difícil para algumas pessoas, chegando a causar dilemas, dores emocionais e grandes frustrações (momento de lembrar do Chidi na série The Good Place).

Esse fato acontece com uma frequência grande o suficiente para ter sido estudado por diversas pessoas, e uma conclusão parecida pode ser abstraída de alguns estudos: quanto mais opções de escolha temos, mais frustrante pode ser a tomada de decisão.

De acordo com Barry Schwartz, psicólogo e autor do livro “O Paradoxo da Escolha”, nós tendemos a pensar que quanto mais opções tivermos, mais liberdade teremos. Mas não é bem assim.

De acordo com ele, uma grande quantidade de opções disponíveis pode ter, também, pontos negativos: a insatisfação e a paralisia.

A paralisia, porque, quando estamos diante de muitas opções, geramos em nós mesmos a responsabilidade de tomar a melhor decisão. E como tomar a melhor decisão diante de 50 opções para serem analisadas?

E a insatisfação como consequência, já que sempre existe a possibilidade de uma outra opção ter sido a ideal, se nós tivéssemos escolhido ela.

Você pode ver um vídeo do próprio Barry Schwartz falando sobre esse paradoxo clicando aqui.

Outro estudo, dessa vez um pouco mais conhecido pelo design, nos mostra também que quanto mais opções nós temos, mais tempo demoramos para tomar uma decisão.

A Lei de Hick, desenvolvida pelos psicólogos William Hick e Ray Hyman em 1952 e atualmente já muito conhecida por ux designers, calcula quanto tempo uma pessoa demora para tomar uma decisão se baseando na quantidade de opções disponíveis para serem analisadas.

De acordo com os estudos deles, quanto maior o número de opções disponíveis e maiores as diferenças dessas opções, maior será também o tempo necessário para chegar à uma decisão. E não para por aí: esse tempo é logarítmico e pode ser dado por uma fórmula matemática.

Um pouco de matemática.

Fórmula matemática: T = b.log(2) (N+1)

É a fórmula elaborada por Hick e Hyman para calcular o tempo levado para tomar uma decisão, tendo como base a quantidade de opções disponíveis. Sendo que, para tomar essa decisão, considera-se que antes de escolher uma opção a pessoa o separa em categorias, então o processo é feito em partes:

  • 1º: Dividir as opções em grupos.
  • 2º: Eliminar os grupos até que sobre apenas um, de interesse maior.
  • 3º: Eliminar as opções dentro do grupo restante até que sobre apenas uma opção.

E, confesso, não sou muito de números e de matemática. Então, vou passar por ela bem rapidinho, para não deixá-la esquecida:

T é o tempo médio para escolha.

b é uma constante empírica (baseada mais na observação do que na teoria) utilizada para nivelar o valor final, sendo ~150

log(2) é o logaritmo binário que tem a função de agir de forma contrária à potência de 2, categorizando e eliminando opções até que sobre apenas uma.

N se refere à quantidade de opções disponíveis.

+1 é um acréscimo de segurança quanto a incerteza sobre decidir ou não.

O importante a se levar desse trecho é: as escolhas podem ser tão difíceis quando existem muitas opções, que existe uma forma de calcular quanto tempo uma pessoa demora para tomar uma decisão com base na quantidade de opções disponíveis para ela, e quanto menor essa quantidade, mais rápido será o processo de decisão.

E você já viu isso por aí.

Sim! Nós somos constantemente pegos pelo paradoxo da escolha e pelo tempo proporcional de escolha. Para exemplificar de forma prática como essas teorias se aplicam no nosso dia a dia, seguem 3 situações:

Em cardápios e deliverys:

cardápio com 65 opções de bebidas à esquerda e um cardápio com 9 opções de bebidas à direita.
Cardápio com 65 opções de bebidas à esquerda | Cardápio com 9 opções de bebidas à direita.

Cardápios muito grandes e com muitas opções tomam de nós mais tempo do que cardápios menores tomariam. Assim como aplicativos de delivery com muitos restaurantes abertos nos fazem entrar em contradições e dilemas em relação ao que escolher para comer.

“Será que hoje eu tô mais a fim de comida mexicana? Poxa, mas esse churrasquinho também parece tão apetitoso… E tá um clima tão bom para pedir uma massa…”

Em boardgames:

Um jogo que podemos citar como exemplo disso é o X-Wing, um jogo de Star Wars que começa com uma caixa com os elementos básicos e pode ser expandido com colecionáveis que acrescentam personagens, regras e habilidades ao jogo. E, quanto mais colecionáveis são adicionados, mais a fase de escolha dos personagens se torna complexa e demorada.

Além disso, a fase de escolha do jogo é definida por pontuações: os jogadores determinam uma quantidade de pontos que podem ser distribuídos para adquirir personagens e habilidades. Quanto mais pontos, mais cartas podem ser adquiridas por cada jogador. Sendo assim, os pontos são determinados visando o tempo de jogo que os jogadores querem ter: um jogo mais longo geralmente tem de 100 pontos ou mais, enquanto um curto tem de 100 pontos para menos.

No tempo de escolha em videogames:

um personagem de jogo do sexo masculino vestindo roupa social e apontando uma arma para outro personagem do sexo masculino que faz uma menina criança de refém.
Cena do jogo Detroit: Become Human, onde o jogador deve decidir entre atirar no personagem ou convencer ele a soltar a refém, antes que o tempo — indicado na barra branca, abaixo das opções — acabe.

Nesse exemplo, temos também uma curiosidade: a principal aplicação da lei de Hick ocorre em videogames (quando soube disso, minha cabeça fez “buuuum” e eu lembrei imediatamente do jogo Detroit: Become Human).

Em jogos que envolvem escolhas, um fenômeno muito interessante ocorre com a utilização da lei de Hick: para criar tensão, o tempo necessário para tomar uma decisão com base na quantidade de opções disponíveis para o jogador é diminuído. E também funciona de forma contrária, já que o tempo pode ser estendido buscando aliviar essa tensão e causar escolhas mais suaves.

E na experiência aplicada a produtos e serviços digitais?

Algumas ações podem ser realizadas para ajudar o usuário com a complexidade de suas escolhas, mas é sempre importante lembrar que tudo depende do contexto e do problema existente. Entre essas ações, estão:

  • Redução de conteúdo.

Quando não queremos sobrecarregar o usuário com muitas informações, a Lei de Hick nos mostra que podemos manter o conteúdo no mínimo necessário. Isso se aplica ao conteúdo na página, às imagens, à quantidade de páginas etc…

Ou seja: ao remover opções excessivas, diminuímos a quantidade de decisões que o usuário deve tomar, reduzindo a chance dos usuários ficarem frustrados.

  • Redução de opções.

Reduzindo as opções, nós não reduzimos a quantidade de decisões que devem ser tomadas e sim a complexidade de determinada decisão. Por exemplo, podemos reduzir a quantidade de filmes indicados para os usuários em um streaming ou reduzir a quantidade de sabores de uma comida em um cardápio. Assim, fazemos com que a tomada de decisão seja mais rápida e menos difícil.

  • Hierarquização das informações.

A hierarquia visual pode ajudar o usuário durante a navegação, mas também pode atrapalhar.

Uma boa hierarquia visual aplicada na página pode focar a atenção do usuário nos pontos principais do layout, além de o ajudar a saber onde encontrar certas informações. Por outro lado, se a hierarquização não for feita e muitos conteúdos forem alocados, o layout pode ficar confuso e cansativo, fazendo com que os usuários fiquem no seu site por menos tempo.

  • Categorização de escolhas.

Com a categorização de escolhas, os usuários podem encontrar a opção desejada em menos tempo, já que podem eliminar opções sem categorizá-las antes — este trabalho já estará feito.

Por exemplo, em um menu de navegação com muitas páginas, elas costumam ser separadas em categorias que, inclusive, podem ser ocultadas para facilitar a visualização do usuário.

Para finalizar…

A dor da escolha sempre estará presente no nosso cotidiano e, principalmente, no cotidiano de nossos usuários e clientes. Atualmente, somos cercados por informação e sempre estamos escolhendo o que fazer, como fazer, onde fazer, quando fazer… E nossos usuários também!

Sendo assim, é sempre bom lembrar de tentar aliviar essa dor da maneira mais adequada ao contexto: talvez com categorização de elementos, talvez com a diminuição da quantidade de opções, talvez com recomendações mais precisas… Existem diversas maneiras que podem, ou não, funcionar (e, com isso, chega a hora de testar e testar e testar!)

Ah! E por último, mas absolutamente não menos importante: meus “muito obrigada ❤” ao amigo Miguel Canazart, pela ajuda no entendimento da fórmula apresentada no artigo. E meus mais sinceros parabéns pelos seus 936 pontos de matemática no ENEM mais recente. Orgulho! 🎉

Obrigada por ter chego aqui no finalzinho!

Até o próximo artigo :)

Ilustração de uma mulher saindo pela porta posicionada à direita da tela. A mulher veste uma blusa laranja e calça preta e possui um balão de fala dizendo: “Tchau!”

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Giovana Dias

UX e UI designer apaixonada por aprender e ensinar, por literatura e por gatos. Escrevendo aqui em 3 categorias: #Eventos #UX/UI #SemRótulo